Nuvens negras se acumulam no céu e a chuva começa a cair. Um pastor em Salle, Itália, leva seu rebanho para uma área coberta, tentando fugir da chuva. O pastor sabe que as tempestades acontecem, mas que elas sempre passam. Ele assiste a chuva, os trovões fazendo o rebanho tremer um pouco. Ele pode ver uma luz acesa em uma das casas da cidade. É a de sua própria casa e ele se pergunta o que a sua família estaria discutindo, enquanto um raio passa perto da casa. O ano é 1687 e, dentro da casa, a família D’Addario está conversando sobre cordas musicais pela primeira vez.
E esse foi o começo de tudo. A família D’Addario começa então a tirar as tripas de animais para fazer cordas para instrumentos de arco, cítaras e violões. Muitos membros da família devem ter sido músicos, ajudando a refinar e aperfeiçoar a fabricação a mão de cordas que logo começaram a ser trocadas por toda a Itália.
Mais de 200 anos depois, em 1905, Charles D’Addario está sentado em sua casa, no mesmo lugar que seus antepassados sentaram, tomando mais uma decisão. Ele deveria levar seu negócio para a América? Sua família e toda sua vida estavam em Salle, mas milhões de pessoas estavam indo para a América, em busca não só de sucesso, mas também de uma vida em um país que oferecia liberdade e oportunidades. Os benefícios da América eram muitos para ele deixar a chance passar. Ele precisa arriscar.
Meses depois, ele está em um barco, tremendo, com seu casaco de lã enrolado no pescoço para se proteger contra o vento e a garoa gelados. Charles nunca gostou muito de navios e a viagem estava sendo longa, fria e difícil. De repente, alguém na multidão de centenas começa a gritar. Um murmúrio percorre o grupo enquanto eles passam pela neblina, pelo nevoeiro e pela chuva. No alto, à distância, aparece uma luz. Charles consegue ver uma sombra aparecer entre as nuvens. A Estátua da Liberdade está na frente deles, levantando sua tocha contra a chuva, os guiando para Nova Iorque. As pessoas gritam quando a vêem, esticam os braços tentando tocá-la, choram lágrimas de felicidade. Enquanto as lágrimas se misturam a chuva em seu rosto, Charles olha para a Liberdade e pensa que quer estar sempre perto dela, para que ela o proteja. Assim, ele estabelece sua casa e sua loja no Queens, a poucos quilômetros de distância da ilha onde fica a estátua.
E ela realmente o protegeu, embora para Charles, assim como para milhões de imigrantes, os tempos tenham sido difíceis. Fazer cordas a mão era um trabalho duro e cansativo, mas a clientela começou a se formar. Seu negócio cresceu e começou a se estabelecer e eventualmente seu filho, John, da primeira geração de D’Addarios nascidos na América, se juntou ao trabalho. A empresa foi chamada de C. D’Addario & Son. John conseguiu muito sucesso para a empresa, adaptando a fabricação de cordas para a de cordas de violão e melhorando as técnicas de mecanização.
Eventualmente, a empresa, que começou a ser conhecida como D’Addario & Company, Inc., agora guiada pelos filhos de John, John Jr. e Jim, voltou a fazer cordões para instrumentos de arco quando adquiriram a Kaplan Musical String Company, em 1981.
Ladislav Kaplan veio para a América no começo do século com o sonho de fazer cordas e, assim como Charles, conseguiu alcançar o sucesso. A máquina enroladora de cordas Kaplamatic, por ele inventada, tem até hoje um design muito similar ao original, apesar de ter tido algumas ferramentas trocadas e ter sido mecanizada e computadorizada por Jim D’Addario e seu time de engenheiros. Charles e Ladislav nunca foram concorrentes e as cartas trocadas entre os dois mostram a amizade que tinham e as idéias e materiais que compartilhavam frequentemente.
Depois que a D’Addario comprou a Kaplan, a verdadeira revolução em instrumentos de cordas começou. Jim renovou o Kaplamatic e os D’Addarios começaram a experimentar novas técnicas e a oferecer novas cordas com o nome da empresa. As cordas Prelude apareceram primeiro, seguidas pelas ProArt. Em 1994, as cordas Helicore com núcleo de aço trançado apareceram no mercado, logo se tornando uma das mais famosas cordas de orquestra do mundo. Em seguida vieram as cordas de violino e viola Zyex, feitas de um material usado pela NASA que imitava perfeitamente o som e a sensação das cordas de tripas como nenhum outro material tinha feito, sem os problemas comuns das cordas feitas de tripas.
E então, três séculos depois que a família D’Addario conversou pela primeira vez sobre como poderiam usar as tripas de suas ovelhas para fazer cordas musicais, seus descentes diretos estão comandando a maior empresa de cordas musicais do mundo, fabricando mais de 300.000 cordas por dia. Os D’Addarios naquele dia em Salle nunca poderiam ter previsto que o nome da família seria um dia conhecido por todo o mundo e que seria procurado diariamente por alguns dos maiores artistas que já tocaram instrumentos de corda.
De pastores a imigrantes, e de imigrantes a líderes industriais, a família D’Addario sobreviveu mantendo a qualidade dos seus produtos e sua natureza inovadora que são hoje sinônimos do nome D’Addario. Trabalhando inspirados pela música, a D’Addario é hoje uma parte da música, e uma parte que nós sempre adoraremos tocar.
A D’Addario é distribuída com exclusividade pela Musical Express desde 2004.